O nome da banda dispensa apresentações, pois são os pioneiros do Thrash Metal no Brasil. Em uma época em que a maioria das bandas de Minas Gerais e mesmo do Brasil faziam Death Metal, o CHAKAL já estava no caminho do Thrash desde a coletânea Warfare Noise, de 1986, onde compareceram com 2 faixas matadoras, as hoje clássicas ‘Cursed Cross’ e ‘Mr. Jesus Christ’, esta última presente novamente em seu primeiro CD, ‘Abominable Anno Domini’, de 1987.
De lá para cá, são mais de 25 anos de muitas lutas, mudanças de formação, vários discos lançados, e sucesso no underground, culminando em uma apresentação meteórica em Cochabamba, na Bolívia, onde a banda foi recebida como verdadeiros heróis, o que de fato são, pois nenhuma banda dura tanto tempo sem ter persistência de aço e vontade de titânio. Aproveitando esta bem sucedida apresentação, fora os boatos sobre um novo disco da banda, o Whiplash! foi lá bater um papo com Wiz, o técnico baterista do CHAKAL.
Bem, por mais que a banda seja lendária, tem muitos fãs mais jovens que conhecem bem poucosua história. Comentem um pouco sobre ela, de quando começaram das dificuldades, dos discos, enfim, um pouco de tudo o que o CHAKAL fez nesses anos todos. Wiz: O Chakal foi formado em meados de 1985, como 1ª experiência participamos do Metal BH 2, depois gravamos uma demo tape e fomos convidados a participar da 1ª edição da ‘Warfare Noise’ que foi uma coletânea lançada pela Cogumelo no intuito de fazer um teste para ver se as 4 bandas estavam aptas a lançar um LP individual. Depois disso lançamos outros trabalhos e consolidamos nosso nome na cena que explodiu em MG e no Brasil durante a década de 80 e 90. Atualmente estamos nos preparando para lançar um novo trabalho e fazendo alguns shows pelo Brasil e exterior. Vocês estavam lá quando a cena mineira pôs o Metal Nacional no cenário mundial, fizeram parte dessa história toda. Qual o maior sentimento de vocês em relação a isso? Qual o maior arrependimento e maior realização da banda? Wiz: Não sou muito saudosista, mas seria até irresponsabilidade de minha parte não reconhecer a importância histórica que Belo Horizonte teve no fim dos anos 80. Talvez por ter participado diretamente de tudo isso eu tenha um olhar diferenciado da coisa toda, mas é impressionante como até hoje a gente encontra pessoas que falam ‘nossa eu comecei a gostar de Metal por causa de vocês’. Acho que esse reconhecimento é a coisa mais importante que a gente pode esperar. Só tenho arrependimentos pessoais nada com respeito à banda, a maior realização acredito que é nossa discografia e alguns shows que vão ficar na memória para sempre.
De sua geração, o CHAKAL sempre foi a banda mais diferenciada, buscando usar da técnica e mesmo melodias bem armadas, estruturas musicais bem incomuns para sua época, onde imperava a crueza e simplicidade. E isso em 1986, antes das bandas de então, tanto daqui quanto de fora, evoluírem musicalmente. Indo a fundo, o que diferenciaria vocês, naquela época, dos outros músicos de MG, para terem esta particularidade?
Wiz: Acho que uma coisa que nunca tentamos foi ser a banda mais rápida ou mais barulhenta ou mais técnica, estas coisas acabaram acontecendo naturalmente e em doses certas, com isso acabamos sendo uma banda rápida, barulhenta e técnica, isso reflete em nossos trabalhos com músicas que vão pendendo para um ou outro lado. Outro ponto que vale destacar é a influência individual de cada um que acaba mesclando muito o som da banda sem descaracterizá-lo.
Vindo mais para frente, uma curiosidade que muitos fãs possuem, e poucos sabem: o que levou Korg a deixar a banda e ir montar o THE MIST? E como foi gravar o ‘The Man is His Own Jackal’ sem ele, já que são amigos há tantos anos?
Wiz: Sabe que a saída dele foi uma coisa que foi acontecendo, pra dizer a verdade eu não consigo falar um motivo. Eu e ele somos irmãos, mas sempre consegui não misturar estas coisas, tive mais problemas com a saída do Pepeu tanto que fiquei vários anos sem conversar com ele.
Quanto a gravar o ‘The Man...’, tivemos alguns problemas, mas nada que tivesse alguma ligação com o Korg.
Os anos 90 foram bem cruéis com todas as bandas do Metal nacional das antigas, tanto que muitos de vocês deram uma parada forçada. O que levou a banda a dar esta parada? E como foi que surgiu a volta de vocês, com Korg mais uma vez nos vocais?
Wiz: Estávamos tendo problemas de relacionamento na banda, nada pessoal só problemas musicais e de falta de interesse, mas acho que isso estava acontecendo com todo mundo os shows estavam ficando escassos e vazios e a maioria das bandas estavam mais afim de misturar metal com baião e samba etc.
Outro destaque forte da banda, em todos os seus discos, são as letras, pois todos trazem temas politizados como em ‘May Not the Mankind Suffer’, homenagens a Jason em ‘Jason Lives’, alguns temas que remetem diretamente aos trabalhos de John Carpenter, e mesmo ironias como ‘Santa Claus has Got Skin Cancer’, se contrapondo aos temas satanistas repetitivos de então, e mesmo sendo uma referência para outras bandas. Vendo tudo isso, de onde sai tanta inspiração? Algum de vocês é viciado em livros e filmes de terror, ficção e do fantástico literário?
Wiz: Existe uma grande diferença entre as composições da época do Korg com os outros trabalhos, no ‘The Man...’ e o Death is a Lonely...’, as letras são mais para o humor negro e a maioria foi escrita por um amigo nosso (Eduardo Gordo), junto com o Laranja, algumas letras eu dava a idéia básica assim como o título dos dois LPs. Acho que todos somos viciados com filmes de ficção e terror, mas eu o Korg sempre fomos grandes leitores desde criança. Com certeza isso influencia diretamente nos temas do Chakal.
Vindo mais para o presente: a banda tocou a pouco tempo na Bolívia, em Cochabamba, o que tem se tornado algo corriqueiro agora, pois várias bandas brasileiras estão indo por este caminho. Falem um pouco sobre esta experiência. Como foi a recepção do público de lá? Há planos para mais shows em outros países? E uma curiosidade: vocês chegaram a sofrer com a altitude do país, já que a cidade fica a 2560 metros em relação ao nível do mar?
Wiz: A recepção foi incrível, com faixas da banda no aeroporto, muitas fotos e depois uma tarde de autógrafos bastante movimentada. E sim, existem alguns contatos para shows em outros países, mas por enquanto estamos só nas negociações. Cochabamba fica a 2.800 metros então não é tão problemático o efeito da altitude, as vezes você sente um pouco de falta de ar se subir uma escada muito rápido ou precisar correr, mas não é nada muito agressivo. O show foi muito bom e muito bem organizado e fizemos muitos amigos por lá, se tudo der certo ano que vem voltaremos.
Falando sobre o som de vocês mais uma vez, a evolução, sem perder a essência de seu estilo, é uma de suas marcas registradas do CHAKAL, mais uma vez se contrapondo a muitos de seus contemporâneos. Da ‘Warfare Noise I’ até hoje, é possível constatar que a banda é a mesma, apesar de evoluída em todos os aspectos. O que podemos esperar no próximo disco de vocês? Podem nos adiantar algo?
Wiz: Estamos tocando algumas músicas novas no show e a galera está curtindo como se já conhecesse a música, isto é muito gratificante, pois eu entendo que a maioria das bandas sofre para colocar coisas novas no meio do repertório e conosco está acontecendo até o contrário. Alguns fãs perguntam depois se o novo trabalho vai seguir a linha das músicas novas. Sobre o novo trabalho, eu sempre penso que o trabalho novo é uma mescla de tudo que já fizemos então tem coisas de todos os nossos trabalhos antigos e mais algumas coisas que vamos adicionando com nossa experiência do passar dos anos, o que não fazemos nunca é seguir modinhas.
E por falar nele, quando é que ele chega? Os fãs já estão ansiosos!!!
Wiz: Ainda não temos uma data, como disse estamos fazendo o caminho inverso testando as músicas ao vivo para depois gravar. O CHAKAL espera ver todos vocês na estrada em 2011!