terça-feira, 16 de novembro de 2010

Shaman: “O Som está aqui. Honesto, de peito aberto!”

Independente das agruras do passado, é inegável que o Shaman soube como dar a volta por cima e, com o lançamento de "Origins", esteja em uma de suas melhores fases. O disco foi muito bem recebido no Japão e agora está chegando ao mercado nacional via Voice Music, inclusive trazendo como bônus o DVD "Shaman & Orchestra - Live At Masters Of Rock Of Prague".
Já considerado como um dos mais relevantes álbuns nacionais de 2010, o Whiplash! conduziu uma entrevista com o vocalista Thiago Bianchi e o baterista Ricardo Confessori, que falaram sobre o atual estágio de sua carreira, detalhes do novo disco e projetos que estão por vir. Confiram aí:
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Whiplash!: Olá pessoal. Primeiramente, parabéns pelo esmero empregado em "Origins", que está excelente. Este é o segundo disco com a nova formação... Como analisam as duas fases que o Shaman atravessou em sua primeira década?
Ricardo Confessori: A primeira fase foi de construção e a segunda de reconstrução... Aprendi muito com a primeira formação, principalmente no que diz respeito ao segundo lançamento. Deve haver muito empenho para superar o primeiro CD, e pecamos nisso na primeira formação, mas não com a atual. E digo mais, hoje em dia acredito que cada CD tem que ser uma superação, uma mudança, ou a banda se estagna. Com a nova fase, já ultrapassamos o número de lançamentos da antiga formação, são dois de estúdio e dois DVDs, então acho que agora o trabalho é o de se posicionar com um novo som, o som de cada um da banda e conquistar novos fãs.
Thiago: Obrigado, Ben. Sim, a banda completa agora 10 anos e isso nos traz muita felicidade de fazer parte dessa história. Suas duas fases são intensas e honestas. Seria arrogante de minha parte dizer que evoluiu aqui ou ali, mas o fato é que a banda teve uma mudança profunda, mas não em sua música, mas sim da fase que essa mudança aconteceu.
Thiago: O SHAMAN tem uma história rica, vem de uma era onde o Heavy Metal era respeitado no Brasil, isso não acontece agora. Levamos a ferro e fogo nossa bandeira, nossa música, mas não só enfrentamos o desdém da mídia, mas também o próprio público que não acompanhou a evolução da cena metálica mundial, um público que não se revitalizou. Perdemos muito com a situação em que se encontra a música hoje em dia. O ‘business’ musical ainda não entendeu que não precisa ‘enfiar goela abaixo’ das pessoas um determinado estilo musical só porque existe uma ‘tendência’ ou um novo público se formando.
Thiago: Não é só por isso que todo outro tipo de música tenha de ser ignorado. E as pessoas respondem a isso! Isso que me corrói! Não entendo como, mesmo num mundo com informação tão abundante quanto na internet, as pessoas ainda se condicionem a fazer só o que a grande mídia sugere. Isso é errado! As pessoas têm que ser mais curiosas, mais ‘abertas’ ao novo! Ao ‘diferente’! Por si só, e não porque a TV ou o rádio disseram que é o certo!
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Thiago: Esse é um retrato de antes e depois, a meu ver. Fazemos um som de qualidade de banda de mídia, a um mundo que só olha para o que a mídia manda e agora não é o Metal. O Som está aqui. Honesto, de peito aberto e feito com vontade de tirar as pessoas de suas mentes e levá-las ao ‘novo’. A “evolução da espécie”.
Whiplash!: Bom, as origens do novo disco... Sua primeira música foi “No Mind”, já finalizada desde 2008. Nesta época, vocês já tinham definido que o próximo trabalho seria conceitual, ou a estória foi desenvolvendo com o tempo?
Thiago: Sim, “No Mind” foi o pontapé inicial dessa nova fase... Na verdade, eu já tinha uma idéia desde o tempo do “Ritual” (nota do editor: Thiago produziu a demo que originaria o disco “Ritual”, na época, apenas como produtor), de contar a história daquele índio que figurava na capa e quando pintou o “Immortal”, eu já escrevi algumas coisas indicando ‘traços’ da mudança que “Amagat” sofreria quando SHAMAN. “Origins” se trata de sua ascensão como ‘iluminado’, quando ainda menino, “Ritual” é sua história quando ‘atuante’ como SHAMAN e “Immortal” quando ‘ressuscitou’.
Thiago: Comentei com o pessoal da banda e eles curtiram a idéia, e logo passaram a dar ‘pitacos’ na história, principalmente o Ricardo, que conhece a estória do SHAMANdesde o início.
Confessori: O Thiago teve essa idéia de contar a ‘origem’ do shaman, isto é, como um garoto se tornou shaman, conheceu os sonhos, viajou dentro deles para conhecer os segredos e curar as pessoas. Por coincidência, saiu um filme esse ano chamado ‘A Origem’ com Leonardo Di Caprio, que fala exatamente da realidade nos sonhos e de um cara que entra nos sonhos dos outros, pra extrair informações.
Whiplash!: Seria equivocado dizer que há algo autobiográfico por trás do conceito de "Origins"?
Thiago: Hum... (risos). Vamos por partes... Primeiro temos que enxergar ‘Amagat’ como um menino que, em um primeiro momento, se viu perdido por conta dos conflitos intensos entre sua mente e sua intuição em sua vida, e como isso o afetou dentro de sua sociedade, que o ‘expulsou’ por conta de considerar suas questões uma ‘anomalia’ frente seus costumes.
Thiago: A partir de então, ele se vê obrigado a fugir até finalmente se perder mata adentro, onde iniciaria os ‘10 passos’ de seu caminho à ‘iluminação’. E isso é um traço de muitos mestres espirituais, como Jesus, Buda, Osho, Krishina... Todos eles tiveram um ‘sumiço’ em suas histórias. E com ‘Amagat’ não seria diferente. Até finalmente seu retorno como um ‘iluminado’ e logo, líder espiritual de sua tribo.
Thiago: Acho que todos nós temos, em algum momento de nossas vidas, essa série de situações onde você é obrigado a evoluir, por conta de uma força muito forte que emana dentro de si mesmo. Quando você se encontra pronto para ouvir essa ‘voz’, uma série de acontecimentos fora de seu controle passa a tomar conta de sua vida. Como você vai agir frente a isso, só você mesmo pode responder...
Confessori: De certa forma, pode ser encarado biograficamente, como conta a estória de Amagat, ele foi excluído da tribo da qual fazia parte, por pensar diferente da maioria. Finalmente ele volta e o tempo faz com que ele seja recebido e compreendido pelo seu povo. Quem já não passou por algo semelhante? Eu, com certeza já.
Whiplash!: Geralmente os discos do SHAMAN possuem uma musicalidade bastante rica, Heavy Metal, Música Clássica, World Music, etc... Existe certa pressão em manterem-se fiéis ao tipo de som que os fãs esperam do Shaman? Quais as metas que vocês tinham em mente quando começaram a gravar o "Origins"?
Thiago: Pressão não. Somos todos produtores e temos muita liberdade de visualização de idéias em estúdio. Mas para ser sincero, esse disco foi todo contribuído por internet. Passávamos as idéias e-mails adentro e cada um fazia suas mudanças, geralmente originada por Fernando e eu, Leo entrava com os instrumentais e Ricardo ‘shamanizava’ coisa toda. Finalmente eu agendava as gravações com a banda e finalizava a produção com os músicos Guga Machado (percussão) e Fabrízio Di Sarno (teclados). A partir daí, ouvimos tudo à ‘exaustão’, até que finalmente eu pudesse mixar e partir para a próxima canção. Foi realmente bem interessante o processo como foi concebido “Origins”.
Confessori: Não houve objetivo nesse sentido, de riqueza e variedade, mas sim o de se adicionar mais o lado progressivo. Acabou acontecendo por acaso, o CD acidentalmente ficou variado, e cada uma dessas variações muito bem trabalhada. Mas a gente quer e sempre irá mudar a cada CD, acompanhando as tendências musicais de cada um e do mundo.
Whiplash!: Nos dias em que a venda de CDs não está em seus melhores momentos, achei muito válida a decisão de "Origins" também trazer o DVD “Shaman & Orchestra”, e por um preço tão camarada... Bicho, como rolou esse lance de tocar com uma orquestra em um festival lá na República Tcheca?
Thiago: Bom, foi tudo sugerido por nossa agente canadense, Tiziana Hurd. Ela deu a idéia e a partir de então passamos a trabalhar para que isso pudesse tomar forma. Todas as partituras ficaram a cargo de nosso tecladista e maestro Fabrízio di Sarno. Ele escreveu todos os arranjos e, pra quem não assiste o DVD apenas em seu computador com aquele som de ‘nada’ que todo computador tem (risos), pode se entreter com o grande trabalho de arranjo idealizado por Fabrizio e por nós e ‘performado’ pela “Praga Bouslav Orchestra” e o maestro “Musa Goçman”.
Thiago: Foi realmente um sonho e temos o orgulho de sermos a primeira banda nacional a chegar a tal feito! Esperamos que muitas outras possam continuar essa estrada evoluindo e aprimorando a idéia! Os fãs verdadeiros não merecem nada menos que o máximo de nós e isso é o que temos feito.
Confessori: Sim, a idéia foi exatamente essa, ter um DVD que incentivasse as pessoas a comprarem, e não baixarem. Foi inevitável registrar esse momento, usamos a estrutura de filmagem e gravação do próprio festival Master Of Rock Festival e finalizamos tudo aqui no Brasil, com o Carlos Favalli fazendo o vídeo, e nos mesmos e o Estudio Fusão VMT fazendo o áudio. O resultado foi muito bom, ainda mais se for considerado que o DVD vai de bônus para aqueles que compram o novo álbum. Acho que ficou um produto incrível! E ainda tem o ‘making off’ de toda viagem para Praga e muito mais.
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Whiplash!: Sua apresentação foi muito boa, e as imagens mostram o público curtindo mesmo, assim como o baixista Fernando Quesada, que agita prá cacete... Como é o preparo e as maiores complicações quando uma banda de Heavy Metal se prontifica a tocar com uma orquestra?
Confessori: Bom, o preparo começa com partes e mais partes de música escrita e corrigida, muita transcrição, inclusive de solos, para que o maestro responsável (que foi o Musa Goçmen) possa escrever tudo sem errar na harmonia. Depois tem a parte de ensaio com os maestros (Fabrizio também levou muito crédito e escreveu a maioria das coisas) e a orquestra, com a linha vocal, ainda na sala onde a orquestra pratica. Por último, o ensaio no palco do festival, com toda banda, orquestra, monitoração de palco. No total, contando os microfones para P.A. e para gravação, foi um total superior a 100 microfones captando e reproduzindo o ‘Shaman & Orquestra’ no momento do show. E tudo foi montado após o show do NIGHTWISH, em 30 minutos…
Whiplash!: “Origins” foi liberado inicialmente no Japão, e posteriormente para outras nações e Brasil. Já deu para sacar a recepção deste trabalho?
Confessori: O Brasil saiu depois do Japão, e ainda nem sequer fizemos o lançamento em São Paulo, por isso ainda é cedo pra ter uma reposta do público. A gente já percebeu que a mídia brasileira gostou muito.
Whiplash!: Pois bem, foram poucos os meses separando os lançamentos de "Aqua" e "Origins". Como fica a situação das agendas de shows do ANGRA e Shaman, que, inclusive, já está definindo datas para a ‘Origins World Tour’?
Confessori: Tem sido difícil juntar a agenda de todos, alguns são profissionais da área de áudio, atuando em estúdios, universidades e escolas de áudio, mas não deixamos a qualidade cair, muito pelo contrário, lutamos para que todos ouçam nosso CD e digam que nos esforçamos e que soamos como uma banda ‘tempo integral’. Sempre haverá datas suficientes para ambos, são 30 dias no mês, e nem o ANGRA ou o Shaman está mais em fase de fazer longas tours, apenas pela ‘experiência’ de fazê-lo. Os shows são marcados com mais consciência, para que funcionem de acordo com o compromisso de todos.
Whiplash!: Confessori, atualmente, quais as diferenças e objetivos do SHAMAN e o Angra?
Confessori: O objetivo sempre será o de fazer boa música, isso posso te garantir… No Shaman, levando em consideração que a banda se reestruturou da base, ainda demos algumas cabeçadas com gravadoras no começo, com divulgação, coisas que sabíamos que iríamos enfrentar (pelo menos eu sabia). O bom é que agora, no "Origins", estamos mais estruturados e com assessoria competente. O ANGRA tem como objetivo ser o guia do metal do Brasil, pois com sua volta o mercado de shows reaqueceu, assim como a mídia para o segmento. E isso foi bom para todos nós.
Whiplash!: Thiago, e o que está acontecendo com o Karma? A última notícia que tive é que Edu Ardanuy (Dr Sin) havia ocupado o posto de Chico Dehira...
Thiago: Bom, minha produtora, o “Fusão VMT Studios” vai a mil por hora. Tenho feito muitos álbuns dos quais tenho me orgulhado muito! Agora tenho escrito roteiros pra clipes e também estréio minha direção agora em janeiro.
Thiago: O Karma, sinceramente, está ‘em obras’ (risos). Sim, estamos trabalhando com Edu Ardanuy na guitarra e a coisa toda está ficando muito loka, bem ao estilo Karma de ser, mas com aquela insanidade do Eduzinho! Realmente deve ser um próximo grande disco de minha vida. Outra coisa legal que vem aí é um projeto solo intitulado Arena. O disco se chamará “Brazilian Solaris” e trata-se de uma grande reunião de amigos e, por coincidência, expoentes do rock brasileiro (risos), uma verdadeira homenagem ao celeiro ‘paradisíaco’ que temos, musicalmente falando.
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Whiplash!: Curiosidade final, e certamente questionada por boa parte de seu público... Não é novidade que os outros músicos do Shaman não gostaram da idéia de vocês continuarem a banda sem a presença deles. Já se passaram alguns anos, e cada parte seguiu sua própria carreira. Não houve mais nenhum contato com o Andre e os irmãos Mariutti?
Confessori: Sim, é verdade. A vontade deles era terminar a carreira do Shaman definitivamente. Muitos me perguntaram por que não mudei o nome da banda, já que ela mudou radicalmente… Bom, se eu mudasse o nome seria para algum outro como "Pagé" ou "Curandeiro", pois queria uma banda que falasse disso. Os caras tiveram uma posição radical, esqueceram que o tempo passa e a gente poderia se encontrar lá na frente e querer fazer um som, num barzinho que fosse. Eu, graças a Deus, sempre deixei a porta aberta, a prova está aí, que voltei ao ANGRA, com meus colegas de mais de 10 anos. Eu sempre falo que a música fala mais alto que tudo, mas acho que eles levam sério demais esse lance do business, então ficou difícil de falar sem um advogado, o que não corresponde a realmente falar para mim, ‘a parte das questões jurídicas’. Até por essa atitude dos caras, sempre tive medo de usar a imagem deles em sites e MySpace do Shaman, do jeito que gostaria, pois nunca pude levar um papo em relação a isso.
Whiplash!: Ok, pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista e deseja boa sorte na divulgação de “Origins”. Fiquem à vontade para as considerações finais, ok?
Thiago: Obrigado a todos os que apóiam o metal nacional!

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