Miasthenia
é uma banda de Extreme Pagan Metal de Brasília, formada em 1994.
Tive a satisfação de falar um pouco com Susane Hécate em
entrevista para o blog. Confiram!
OPDM -
É uma satisfação tê-la aqui conosco. Conte-nos um
pouco sobre o início início de tudo em 1994. Na época, vocês acreditavam chegar
tão longe e manter a banda durante tantos anos?
Hécate - A
banda foi formada em 1994 por mim, Vlad e Mictlantecutli. Em 1995
gravamos nossa primeira demo-ensaio “Para o encanto do Sabbat”
onde eu toco guitarra e faço backing vocals. Em 1996 gravamos a
primeira demo “Faund – Trágica Música Noturno”, lançada em
um Split CD pela Evil Horde record em 1998. Nessa demo eu toco baixo,
teclado e canto também. Nosso primeiro álbum “XVI”, lançado
pela Somber Music, veio em 2000 com a entrada de Thormianak nas
guitarras, na saída de Vlad, e inserção de Mist no contra-baixo.
Com essa formação gravamos em 2004 o álbum “Batalha Ritual”.
Em 2008 gravamos o “Supremacina Ancestral”, com a presença de
Hamon (Mythological Cold Towers). Estes dois álbuns foram lançados
também pela Somber Music. Em 2012 a banda virou um trio, formada por
mim, Thormianak e V. Digger na bateria, e com essa formação
gravamos em 2014 o “Legados do Inframundo” e este ano (2016) o
nosso mais novo álbum “Antípodas” que será lançando em 2017.
Com certeza não esperávamos que a banda fosse tão longe em relação
ao tempo de sua existência, mas o Miasthenia nunca parou, mesmo
tendo momentos difíceis, de pouca produção e mudanças de
formação, a banda sempre existiu e continuou, porque acima de tudo
precisamos disso, gostamos do que fazemos. Não sei se chegamos tão
longe em termos de repercussão na cena Metal, mas estamos
satisfeitos, até porque temos que dividir a banda com nossas
carreiras profissionais.
OPDM -
Como era a cena dessa época? Em 1994, quais eram as vantagens e
desvantagens de se ter uma banda, em relação a hoje?
Hécate - O
Black Metal no Brasil tinha como maior representante o Sarcófago.
Curtíamos bandas como Venom e outras de Death Black metal como
Samael e Rotting Christ. Em Brasília erámos bem diferentes, ainda
mais compondo letras em português e abordando temas de paganismo
antigo. A maioria das bandas, de nosso amigos, era de Death Metal.
Shows eram e sempre foram raros. Nos anos 1990 pra tocar num show a
gente tinha que fazer tudo, procurar local, buscar patrocínio, fazer
cartaz, divulgar, se envolver totalmente na produção, o que dava
muito trabalho. Ainda bem que erámos mais jovens e tínhamos tempo
para isso. Hoje a situação é um pouco melhor, mas ainda não
ideal, se queremos um show de qualidade nós ainda temos que nos
envolver na produção e para isso não temos tempo. Mas na última
década conseguimos fazer vários e bons shows pelo Brasil, com o
apoio mesmo da cena e produtores locais, então isso já é um
avanço. Vantagens e desvantagens sempre há, dependendo dos
objetivos da banda. As dificuldades nos aborrecem bastante nesse
percurso, por isso fazemos poucos shows, mas continuamos na ativa,
porque gostamos muito do que fazemos.
OPDM -
Como é fazer Pagan Black Metal no Brasil hoje diante das
dificuldades que a cena metálica vem enfrentando?
Hécate - Nós
do Miasthenia temos grande orgulho em compor e tocar nesse estilo de
metal, é o que nos move. As dificuldades não são maiores nesse
momento, no passado foi bem pior, então não vejo essa crise na cena
em termos de dificuldades, porque hoje muitas bandas tem oportunidade
de gravar um bom álbum e fazer grandes turnês no Brasil e até na
Europa, algo extremamente difícil nos anos noventa. Hoje vc precisa
se destacar mais para conquistar público e espaços de shows com
qualidade.
OPDM -
Vocês tem diversos registros de estúdio e também ao vivo. Como é
para vocês o período de gravações?
Hécate - É
o período que eu particularmente mais gosto. Este ano estivemos
envolvidos nesse processo de gravação, mixagem e produção de
encarte do álbum. Foi estressante, tenso e também prazeroso, porque
sempre idealizamos o melhor. Esse processo de criação é o que nos
faz crescer e nos dá mais orgulho, porque é quando conseguimos
expressar em termos sonoros nossas ideias, é mágico!
OPDM -
Seus álbuns contém temáticas históricas como por exemplo,
“Legados do Inframundo” que se inspira na cosmologia mítica dos
antigos Mayas, sobre a morte e o inframundo (Xibalba). Como funciona
o processo de composição da Miasthenia e quanto tempo de estudo
geralmente exige um trabalho como esse?
Hécate - Inicialmente
eu e Thormianak estudamos e discutimos a temática que vai inspirar a
composição sonora, para ser produzida com inspiração. No “Legados
do Inframundo” foi assim, eu fiquei quatro anos estudando as
concepções de morte e inferno para os antigos mayas, li vários
livros e artigos sobre o tema, e comunicava minhas interpretações
para Thormianak que ai se inspirando e compondo as guitarras bases.
Tenho facilidade na abordagem destes temas, porque tenho doutorado em
história. Então, nesse álbum as músicas partiram inicialmente das
guitarras compostas por Thormianak, diferente dos três primeiros
álbuns onde a composição partia dos teclados. Depois entram na
sequência , os teclados e a bateria, por último o vocal, porque eu
preciso ainda me inspirar no contexto sonoro para encaixar cada frase
de vocal na música, por isso nosso processo é demorado. Todos os
álbuns foram conceituais, para isso todas as músicas e letras tem
que ter uma conexão e encadeamento, o que torno tudo um grande
desafio, o que adoramos!
OPDM -
A Miasthenia vem mostrando seu grande trabalho em seus 22 anos de
existência, isso é exemplo para muitos que buscam seu espaço e o
reconhecimento do seu trabalho. O que vocês tem a dizer para essa
galera que está começando no Metal?
Hécate - Façam
se realmente gostam e se divertem com isso, senão tudo se torna um
martírio e uma perda de tempo. Para persistir com uma banda de metal
extremo é preciso ter um ideal muito além do simples desejo de
fama, amigos e dinheiro que isso possa trazer. É preciso ter
satisfação e sua melhor dedicação no processo de criação
(gravação) e expressão (shows), para que tudo isso possa realmente
ter sentido, especialmente pra você. Não espere tanto dos outros,
não desista por isso, porque o que fazemos é arte, e a arte é
fruto de sua mente e sentimentos, em primeiro lugar tem que lhe dar
prazer e orgulho, como parte importante de sua existência humana. Se
fizer assim, os outros vão te olhar diferente e se emocionar.
Emocionar o mundo é a nossa grande motivação!!!! Força e honra
sempre!!!!
OPDM - Agradeço imensamente ao Miasthenia pela participação através de Susane Hécate aqui no blog, contando um pouco de sua experiência para nós, vida longa ao Miasthenia!
Para acompanhar mais de perto esse trabalho primoroso, acessem:
Vejo vocês na próxima matéria!! Até breve!!
Essa matéria foi realizada por Vivi Alves.
Vivi Alves é uma musicista e professora de canto de Duque de Caxias na Baixada Fluminense - RJ.