sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Miasthenia - 22 anos de Metal Extremo




Miasthenia é uma banda de Extreme Pagan Metal de Brasília, formada em 1994. Tive a satisfação de falar um pouco com Susane Hécate em entrevista para o blog. Confiram!

OPDM - É uma satisfação tê-la aqui conosco. Conte-nos um pouco sobre o início início de tudo em 1994. Na época, vocês acreditavam chegar tão longe e manter a banda durante tantos anos?

Hécate -  A banda foi formada em 1994 por mim, Vlad e Mictlantecutli. Em 1995 gravamos nossa primeira demo-ensaio “Para o encanto do Sabbat” onde eu toco guitarra e faço backing vocals. Em 1996 gravamos a primeira demo “Faund – Trágica Música Noturno”, lançada em um Split CD pela Evil Horde record em 1998. Nessa demo eu toco baixo, teclado e canto também. Nosso primeiro álbum “XVI”, lançado pela Somber Music, veio em 2000 com a entrada de Thormianak nas guitarras, na saída de Vlad, e inserção de Mist no contra-baixo. Com essa formação gravamos em 2004 o álbum “Batalha Ritual”. Em 2008 gravamos o “Supremacina Ancestral”, com a presença de Hamon (Mythological Cold Towers). Estes dois álbuns foram lançados também pela Somber Music. Em 2012 a banda virou um trio, formada por mim, Thormianak e V. Digger na bateria, e com essa formação gravamos em 2014 o “Legados do Inframundo” e este ano (2016) o nosso mais novo álbum “Antípodas” que será lançando em 2017. Com certeza não esperávamos que a banda fosse tão longe em relação ao tempo de sua existência, mas o Miasthenia nunca parou, mesmo tendo momentos difíceis, de pouca produção e mudanças de formação, a banda sempre existiu e continuou, porque acima de tudo precisamos disso, gostamos do que fazemos. Não sei se chegamos tão longe em termos de repercussão na cena Metal, mas estamos satisfeitos, até porque temos que dividir a banda com nossas carreiras profissionais.

OPDM - Como era a cena dessa época? Em 1994, quais eram as vantagens e desvantagens de se ter uma banda, em relação a hoje?

Hécate - O Black Metal no Brasil tinha como maior representante o Sarcófago. Curtíamos bandas como Venom e outras de Death Black metal como Samael e Rotting Christ. Em Brasília erámos bem diferentes, ainda mais compondo letras em português e abordando temas de paganismo antigo. A maioria das bandas, de nosso amigos, era de Death Metal. Shows eram e sempre foram raros. Nos anos 1990 pra tocar num show a gente tinha que fazer tudo, procurar local, buscar patrocínio, fazer cartaz, divulgar, se envolver totalmente na produção, o que dava muito trabalho. Ainda bem que erámos mais jovens e tínhamos tempo para isso. Hoje a situação é um pouco melhor, mas ainda não ideal, se queremos um show de qualidade nós ainda temos que nos envolver na produção e para isso não temos tempo. Mas na última década conseguimos fazer vários e bons shows pelo Brasil, com o apoio mesmo da cena e produtores locais, então isso já é um avanço. Vantagens e desvantagens sempre há, dependendo dos objetivos da banda. As dificuldades nos aborrecem bastante nesse percurso, por isso fazemos poucos shows, mas continuamos na ativa, porque gostamos muito do que fazemos.



OPDM - Como é fazer Pagan Black Metal no Brasil hoje diante das dificuldades que a cena metálica vem enfrentando?

Hécate - Nós do Miasthenia temos grande orgulho em compor e tocar nesse estilo de metal, é o que nos move. As dificuldades não são maiores nesse momento, no passado foi bem pior, então não vejo essa crise na cena em termos de dificuldades, porque hoje muitas bandas tem oportunidade de gravar um bom álbum e fazer grandes turnês no Brasil e até na Europa, algo extremamente difícil nos anos noventa. Hoje vc precisa se destacar mais para conquistar público e espaços de shows com qualidade.

OPDM - Vocês tem diversos registros de estúdio e também ao vivo. Como é para vocês o período de gravações?

Hécate - É o período que eu particularmente mais gosto. Este ano estivemos envolvidos nesse processo de gravação, mixagem e produção de encarte do álbum. Foi estressante, tenso e também prazeroso, porque sempre idealizamos o melhor. Esse processo de criação é o que nos faz crescer e nos dá mais orgulho, porque é quando conseguimos expressar em termos sonoros nossas ideias, é mágico!



OPDM - Seus álbuns contém temáticas históricas como por exemplo, “Legados do Inframundo” que se inspira na cosmologia mítica dos antigos Mayas, sobre a morte e o inframundo (Xibalba). Como funciona o processo de composição da Miasthenia e quanto tempo de estudo geralmente exige um trabalho como esse?

Hécate - Inicialmente eu e Thormianak estudamos e discutimos a temática que vai inspirar a composição sonora, para ser produzida com inspiração. No “Legados do Inframundo” foi assim, eu fiquei quatro anos estudando as concepções de morte e inferno para os antigos mayas, li vários livros e artigos sobre o tema, e comunicava minhas interpretações para Thormianak que ai se inspirando e compondo as guitarras bases. Tenho facilidade na abordagem destes temas, porque tenho doutorado em história. Então, nesse álbum as músicas partiram inicialmente das guitarras compostas por Thormianak, diferente dos três primeiros álbuns onde a composição partia dos teclados. Depois entram na sequência , os teclados e a bateria, por último o vocal, porque eu preciso ainda me inspirar no contexto sonoro para encaixar cada frase de vocal na música, por isso nosso processo é demorado. Todos os álbuns foram conceituais, para isso todas as músicas e letras tem que ter uma conexão e encadeamento, o que torno tudo um grande desafio, o que adoramos!

OPDM - A Miasthenia vem mostrando seu grande trabalho em seus 22 anos de existência, isso é exemplo para muitos que buscam seu espaço e o reconhecimento do seu trabalho. O que vocês tem a dizer para essa galera que está começando no Metal?


Hécate - Façam se realmente gostam e se divertem com isso, senão tudo se torna um martírio e uma perda de tempo. Para persistir com uma banda de metal extremo é preciso ter um ideal muito além do simples desejo de fama, amigos e dinheiro que isso possa trazer. É preciso ter satisfação e sua melhor dedicação no processo de criação (gravação) e expressão (shows), para que tudo isso possa realmente ter sentido, especialmente pra você. Não espere tanto dos outros, não desista por isso, porque o que fazemos é arte, e a arte é fruto de sua mente e sentimentos, em primeiro lugar tem que lhe dar prazer e orgulho, como parte importante de sua existência humana. Se fizer assim, os outros vão te olhar diferente e se emocionar. Emocionar o mundo é a nossa grande motivação!!!! Força e honra sempre!!!! 



OPDM - Agradeço imensamente ao Miasthenia pela participação através de Susane Hécate aqui no blog, contando um pouco de sua experiência para nós, vida longa ao Miasthenia!

Para acompanhar mais de perto esse trabalho primoroso, acessem:

Vejo vocês na próxima matéria!! Até breve!!

Essa matéria foi realizada por Vivi Alves.
Vivi Alves é uma musicista e professora de canto de Duque de Caxias na Baixada Fluminense - RJ.




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